Ansiedade – a origem do sofrimento
“O REI VAI NU”
Conto popular
Ainda na sequência da formação de março para profissionais facilitadores do bem-estar e qualidade de vida, volto a tocar no ponto fulcral do sofrimento do homem moderno. “O rei vai nu”. Continuamos cegos e surdos a insistir tapar o sol com a peneira, não querendo enxergar o óbvio. Usamos todo o tipo de drogas para conseguir um sofrimento menos doloroso, em vez de entrarmos em harmonia com a vida.
É urgente ficar-se ciente que nenhuma droga vai anular a infelicidade ou o sofrimento. O mais que se pode conseguir é ficar ainda mais inconsciente da realidade, ou seja, com mais do que já cria o insuportável sofrimento. Porque o sofrimento ou infelicidade já é um estado de inconsciência. É-se infeliz porque não se está ciente do que se está a fazer nem do que se pensa, nem do que se sente. Qualquer droga legal ou ilícita só vai tornar mais inconsciente quem a usa. E por isso, com mais sofrimento.
Atenção, é preciso esclarecer que quando falo de drogas não me refiro às proibidas, essas são as que menos mal produzem na humanidade. Apesar de serem uma espécie de folclore com que se distraem as massas, também servem muitas vezes como o grito do “o Rei vai Nu” para o mundo de zumbis ou mortos vivos, que detêm o poder governam este mundo. Existem mil e uma drogas “estorva sofrimento”. Não são só somente as receitadas pelos “testa de ferro” da indústria da doença e o álcool; todas as religiões; as redes sociais; o sucesso; o sexo; as relações; o poder; etc.; também são usados como o ópio para anular o sofrimento. Claro o ópio ou as várias marcas de ópio não anulam a ansiedade ou o sofrimento, apenas o adormecem, ao mesmo tempo que estimulam um crescimento cada dia maior do sofrimento, através da ansiedade.
Como sair da ansiedade ou sofrimento? Tomar consciência do ridículo que é alimentarmos as nossas fontes de dor e sofrimento é o primeiro e grande passo. Logo que se esteja ciente que alimentar uma dor ou mágoa é uma atitude pouco inteligente, começamos a percorrer o caminho que nos traz de volta para casa. Estar ciente é única forma de sair da ansiedade ou estado de inconsciência. Somos infelizes porque não estamos conscientes do que fazemos e pensamos.
É muito simples ter uma vida de qualidade. E resume-se a entrar no fluxo da vida em vez de estupidamente lutar contra o que não se pode mudar.
Como fazer? Antes de tudo é importante esclarecer os grandes equívocos com que a humanidade tem vindo a ser burlada (sem se mudar esses infelizes preconceitos jamais entraremos no fluxo e processo da vida «nos reinos dos Ceus» “como dizia o mestre Jesus”).
“Estabilidade” a Grande Burla – com que são enganados os tolos mais adormecidos. Esta burla é a âncora de todos os preconceitos que constroem o sofrimento (ansiedade) e roubam a vida ao homem moderno. Procura-se estabilidade em tudo, no casamento, nas finanças, no emprego, etc.,
Porque é a grande burla? Somos incitados em procurar estabilidade, quando no universo nada é estável. Tudo é movimento, nem na morte existe estabilidade. É urgente descartar a estabilidade das nossas vidas, para que a nossa caminhada seja uma prazerosa aventura, sempre na expectativa das bênçãos que nos traz cada momento do dia.
Quando descartamos a falsa ilusão de estabilidade da nossa realidade, ficamos confiantes e perdemos a necessidade de controlar; e por consequência embarcamos na vida. O único lugar que é bom estar.
Basta para isso uma postura de aceitação em relação à vida para que rapidamente se entre num estado de graça. Infelizmente a aceitação é ainda confundida com tolerância, uma atitude oposta que leva quem a usa à autodestruição. Aceitação é um ato de amor e inteligente enquanto tolerância é arrogância.
Se assim não fosse não existiria insegurança em relação à única coisa que nunca nos abandona: o fluxo e o sentido da vida. É preciso despertar do estado de sonho de olhos abertos. Só despertos podemos estar conscientes do que fazemos, pensamos e sentimos.
Não é certamente com drogas que temos acesso à felicidade e à verdadeira alegria de viver. Não existe qualquer tipo de segredo para se ser alegre e feliz. O único “segredo” é viver conscientemente. E todos os mestres e budas que passaram por esta terra foram unânimes na receita, apesar das formas diferentes. Estar consciente (vigilantes) é a receita.
Para ilustrar o sofrimento do homem moderno temos o conto infantil “o Rei vai nu”
Conta-se que em tempos já lá vão, existiu um rei muito inseguro que morria de medo que alguém notasse a sua insegurança. Para que ninguém se apercebesse de sua insegurança, ele vestia-se de forma muito espampanante. Preferia que lhe chamassem vaidoso ou excêntrico que medroso. Por isso usava sempre roupas muito vistosas e que ninguém conseguisse igualar.
Apercebendo-se das fragilidades do pobre rei, um dia vieram ter com ele dois habilidosos manipuladores que lhe falaram assim:
– Majestade, sabemos que gosta de andar sempre muito bem vestido – vestido como ninguém e bem o mereceis! Descobrimos um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com um fato assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes dos tolos, parvos e estúpidos que não servirão para a vossa corte.
– Oh! Mas é uma descoberta espantosa! – retorquiu o rei. Tragam já esse tecido e façam-me o fato; quero ver as qualidades das pessoas que tenho ao meu serviço.
Os dois burlões tiraram as medidas e, umas semanas depois, voltam ao palácio apresentando-se ao rei dizendo:
– Aqui está o fato de Vossa Majestade.
O rei não via nada, mas como não queria passar por parvo, respondeu:
– Oh! Como é belo!
Então os dois burlões fizeram de conta qua estavam a vestir o fato, com todos os gestos necessários e com elogios do género:
– Ficais tão elegante, meu rei! Todos vos invejarão!
A notícia correu todo reino: o rei veste um fato que só os inteligentes eram capazes de ver. Um dia o rei resolveu sair para se mostrar ao povo. Aí era aclamado por todos. Toda a gente admirava a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, até que, a certa altura, uma criança, em toda a sua inocência, gritou:
– Olha, olha! O rei vai nu!
Gerou-se a confusão que acabou com a gargalhada geral. Só então o rei compreendeu que fora enganado; envergonhado e arrependido de ocultar a sua insegurança com a extravagância, correu a esconder-se no palácio, jurando a si mesmo nunca mais tentar esconder suas limitações.
Só assumindo a responsabilidade pela nossa realidade, poderemos transformar uma limitação em poder.
Todos os iluminados ensinaram uma única lição. Em diferentes idiomas, com diferentes metáforas, mas melodia é a mesma. “O rei vai nu”. Despertai da hipnose psicótica… peguem a vida…
António Fernandes